terça-feira, maio 11

Vinho

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Rubro na cor, rubra a face de quem se deixa tomar por seu espírito.

Fascina, entorpece, relaxa; sua cor acalma, enobrece. Falar de vinho pode levá-lo a tecer loas a deuses profanos ou a devanear, mesmo que você não tenha tomado uma só gota.

Desde a vindima, entre o lagar e o tomar, o vinho tem muita história pra contar. Na pipa, um mistério; na garrafa, o desejo; no cálice, um pecado. Do líquido fermentado, de tantas estórias, às estórias que fazem corar quem dele abusa, um amálgama de buquês, aromas e cores se revela. Roxo, lilás, púrpura, violeta, violácea, vermelho, cores mescladas, destiladas, dão à luz o vinho, e este a sua cor. Desperta todos os sentidos e depois, ironicamente tira-os.

Macerado, pela luz oxidado, o vinho vai desnudando suas nuances, do quase incolor, do branco ao tinto, do verde ao rose, revelando suas interconexões míticas com o sagrado e o profano, ostentando um matiz sanguíneo que transita por artérias degradadas.



Nobre levedo que nos faz levitar, translúcido espírito que da lucidez nos afasta., sua cor , quando tinto, é da nobreza, do clero, da realeza, do luxo, da riqueza. A bebida em si, nos remete ao deleite dos deuses, satisfação de Baco, dos prazeres e do teatro. Tomado de espírito alcoólico, que por trás de cortinas roxas, violetas ou avermelhadas, mimetiza em ébrios seres a vida real. Fascina pela cor, hipnotiza pelo aroma, domina pela boca até a lassidão do todo. Revela nos palcos da vida o amor roxo, eventualmente desemboca em ódio que leva desafortunadamente ao vermelho sangrento da guerra, brindada com o mosto do coração esmagado da vinha, da ira. Impossível, no degustar não ressentir-se de um amargo distante, e em fitar a sua cor, não aludir aos pactos, aos brindes, aos ritos e aos mitos. Ao sacrifício, ao Cordeiro, à humanidade decaída. Dos deuses e escravos; da paixão e da morte, a baga transmuta-se em sangue no Graal.


Gente! Eu não bebí! O texto é isso mesmo!

O MINISTÉRIO DA CULTURA ADVERTE: SE BEBER NÃO ESCREVA!