David De Lossy
Expectativas...
David De Lossy
Livre para amar
...
O homem, ao tornar-se “erectus”, deixou livre suas mãos para lutar e caçar; mais tarde, quando descobriu o fogo e passou a cozinhar a carne, liberou suas mandíbulas para sorrir; ao inventar a escrita o homem deixa de confiar apenas na memória e libera seu cérebro para raciocinar, podendo assim, criar, crescer e conhecer a si mesmo.
Quando o ser humano conseguir libertar-se de si mesmo, estará pronto para amar o próximo.
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Um grande Natal para todos. E que possamos estar juntos em 2012.
A grande mágica
Quem conta um conto...
Quando eu era criança pequena no reino do faz de contas, adorava ouvir estórias. Meu pai contava umas assustadoras! Mas as que eu mais gostava eram as estórias que minha vó contava. Eram aquelas clássicas: historias de príncipes e princesas, de cavaleiros, de lobisomem, de lobo-mau, de mula-sem-cabeça e até de alma penada. Logo cedo me acostumei com o termo “estória de trancoso”. Sem me preocupar com a estranheza do termo, sabia que aquilo significava ouvir muitas narrativas super interessantes e às vezes arrepiantes. O povo sempre contou suas estórias, lendas e fábulas.
Muitos anos mais tarde, passei a me preocupar com outro aspecto das “estória de trancoso”, o nome. Por que “estória de trancoso”? Por que não fabulas, estória de fantasmas, de assombração ou outro nome qualquer?
Com base no maior contador de estórias da modernidade, a Internet, o termo vem da tradição portuguesa das narrativas populares, que inicialmente eram baseadas nas estórias de Gonçalo Fernandes Trancoso, talvez o primeiro contista português. Daí, HIstórias de Trancoso.
“Gonçalo Fernandes Trancoso nasceu em Trancoso – Portugal, na segunda década do século XVI e faleceu em 1596. Terá sido professor de Humanidades. Vivia em Lisboa quando a cidade foi assolada pela peste em 1569. Escreveu Contos e Histórias de Proveito e Exemplo (1575). As suas histórias comungam em certa medida da tradição de Chaucer e Boccaccio. É um dos primeiros contistas portugueses. A sua obra teve grande sucesso, sofrendo múltiplas reimpressões até ao século XVIII.” (Disponível em: http://alfarrabio.di.uminho.pt/vercial/trancoso.htm)
Em qualquer lugar do mundo o povo conta e reconta suas estórias.
A gente escuta, a gente conta. Conte uma.
Bom final de semana!
Um homem, um vira-latas
Deitados na calçada, a cerca de 30 metros de uma igreja protestante, estavam um homem e seu vira-latas. Na verdade, deitado estava o cachorro; o homem estava caído! Até ai nada de anormal para o cenário urbano. O individuo, ou que restou dele, estava em trapos, caído, todo ralado. Mas seu fiel amigo não o abandonara. Cheguei mais perto para ver qual a real situação. Primeiro, fiz amizade com o cão, que, zeloso, acompanhava cada movimento meu. Passei então a verificar o estado do cara, que embora tentasse responder as minhas perguntas, não conseguia pronunciar uma palavra sequer. Tinha todo jeito de estar alcoolizado. Como o sol já estava alto e lhe queimava o rosto, puxei-o para a sombra. Em curto prazo, não havia muito o que fazer. O álcool precisará de um tempo para sair do sangue. Aí, quando ele acordar, o cão o levará para casa.
Já retomava meu caminho, quando percebi que o culto ao lado acabara, e que membros da igreja, começavam a sair, cheios do Espírito de Deus.
- A paz do Senhor.
- Vai com Deus irmão. E etc. e tal.
Foi quando notei que ao avistarem o homem caído, ao lado do vira-latas, a maioria das pessoas ao sair da igreja mudava de calçada. Aqueles que passavam perto, fingiam não ver nada de errado. Se ao invés de um homem e um cão fossem dois vira-latas creio que reagiriam da mesma forma. Olhariam com a mesma indiferença.
Segui para casa desfiando algumas questões:
O que buscamos na igreja? Por que o discurso religioso não se aplica fora do templo? Aquele que tem Deus no coração pode olhar um homem caído na rua e um cão sarnento com a mesma indiferença?
Esse olhar sobre o semelhante está se tornando “comum”. Isso é preocupante!