Fotografia
de Sami Sarkis - Coleção: Photographer's Choice RF
“No
Afeganistão, mulher apaixonada é tabu. É proibido pelos conceitos de honra
rigorosos do clã e pelos mulás. Os jovens não têm o direito de se encontrar para
amar, não têm o direito de escolher. Amor tem pouco a ver com casamento, ao
contrário, pode ser um grave crime, castigado com a morte. Pessoas indisciplinadas
são mortas a sangue-frio. Caso apenas um dos dois tenha de ser castigado com a
morte, invariavelmente é a mulher.” (p.55)
Mas,
se você pensa que por se tratar da realidade de um povo extremista, conservador
e ortodoxo, não há lugar para intimidades, erotismo e outras expansões mais
intimas, engana-se. Há passagens de fazer corar as menos puritanas.
Mais
chocante ainda é a menção que a autora faz aos poemas Landay. Esses poemas são uma espécie de Hai-kai do islã, em geral têm apenas duas linhas. São feitos por mulheres oprimidas, sem
voz própria. Normalmente não são impressos, sobrevivem na oralidade, no
anonimato. Como estes que o livro resgata:
“Pessoas cruéis veem
um velhinho
A caminho da minha
camaE ainda me perguntam por que choro e arranco os cabelos.”
“Eu era bela como uma
rosa;
Debaixo de ti fiquei
amarela como uma laranja.”
“Põe tua boca sobre a
minha.
Mas deixa minha
língua livre para poder falar de amor.”
São
gritos contidos, proibidos, sem eco. Não é uma realidade que nos agrade saber que ainda existe, mas vale a pena conhecê-la um pouco. Através da literatura apenas!