quarta-feira, abril 25

Mulher apaixonada é tabu

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Fotografia de Sami Sarkis - Coleção: Photographer's Choice RF
“No Afeganistão, mulher apaixonada é tabu. É proibido pelos conceitos de honra rigorosos do clã e pelos mulás. Os jovens não têm o direito de se encontrar para amar, não têm o direito de escolher. Amor tem pouco a ver com casamento, ao contrário, pode ser um grave crime, castigado com a morte. Pessoas indisciplinadas são mortas a sangue-frio. Caso apenas um dos dois tenha de ser castigado com a morte, invariavelmente é a mulher.” (p.55)
 O Livreiro de Cabul, de Asne Seierstad, é um dos livros que eu estava segurando para ler desde o final do ano passado. Conclui a leitura há poucos dias.
 O protagonista do romance o próprio livreiro, embora homem preso à tradições, é um distribuidor de sonhos que sobrevive no mundo islâmico. Um dos pontos que mais me chamaram a atenção no livro foi a reflexão que traz sobre o papel da mulher na sociedade afegã ou o fato de esta sociedade lhe negar qualquer papel que seja. A burca é apenas a ponta do iceberg.

Mas, se você pensa que por se tratar da realidade de um povo extremista, conservador e ortodoxo, não há lugar para intimidades, erotismo e outras expansões mais intimas, engana-se. Há passagens de fazer corar as menos puritanas.

Mais chocante ainda é a menção que a autora faz aos poemas Landay. Esses poemas são uma espécie de Hai-kai do islã, em geral têm apenas duas linhas. São feitos por mulheres oprimidas, sem voz própria. Normalmente não são impressos, sobrevivem na oralidade, no anonimato. Como estes que o livro resgata:
“Pessoas cruéis veem um velhinho
A caminho da minha cama
E ainda me perguntam por que choro e arranco os cabelos.”

“Eu era bela como uma rosa;
Debaixo de ti fiquei amarela como uma laranja.”

“Põe tua boca sobre a minha.
Mas deixa minha língua livre para poder falar de amor.”

São gritos contidos, proibidos, sem eco. Não é uma realidade que nos agrade saber que ainda existe, mas vale a pena conhecê-la um pouco. Através da literatura apenas!