quinta-feira, maio 20

Um pouco de poesia: Soneto

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Uma das formas clássicas da poesia é o soneto. Sua orígem é um pouco controversa, mas é ponto passiífico que surgiu na Itália (Sicília) no século XIII. Essa forma de expressão literária foi muito difundida por Petrarca, escritor italiano, e muito explorada também por Camões, Bocage e Shakespeare. Escritores brasileiros, de várias épocas, também escreveram muitos sonetos, principalmente durante o período Barroco e Arcadista. Como por exemplo o grande, e polêmico, Gregório de Mattos. É uma composição poética típica da literatura renascentista sec. XV e XVI). A palavra soneto vem do italiano sonetto que significa pequeno som.


O soneto, embora curto, constui em si uma obra fechada. Transmite uma idéia completa, com introdução, meio e fechamento. Nos versos abaixo, Cruz e Souza, aproveitando a própria estrutura do soneto fala em que consiste esta obra tão perfeita.


O soneto

Cruz e Sousa


Nas formas voluptuosas, o Soneto

tem fascinante, cálida fragrância

e as leves, langues curvas de elegância

de extravagante e mórbido esqueleto.


A graça nobre e grave do quarteto

recebe a original intolerância,

toda a sutil, secreta extravagância

que transborda terceto por terceto.


E, como singular polichinelo,

ondula, ondeia, curioso e belo,

o soneto, nas formas caprichosas.


As rimas dão-lhe a púrpura vetusta

e, na mais rara procissão augusta,

surge o sonho das almas dolorosas...


Como bem posto nos versos acima, em sua forma clássica, o soneto é uma obra composta de 14 versos distribuídos em dois quartetos (estrofe de quatro versos) e dois tercetos (estrofe de três versos). Na sua forma mais difundida, em versos decassílabos (dez sílabas poéticas) heróicos, muito explorados por Petrarca e Camões, apresenta tonicidade nas 6ª e 10ª sílabas, como o que se pode ver a seguir.


Amor é fogo que arde sem se ver

Luis Vaz de Camões


Amor é fogo que arde sem se ver,
é ferida que dói, e não se sente;
é um contentamento descontente,
é dor que desatina sem doer.

É um não querer mais que bem querer;
é um andar solitário entre a gente;
é nunca contentar-se de contente;
é um cuidar que ganha em se perder.

É querer estar preso por vontade;
é servir a quem vence, o vencedor;
é ter com quem nos mata, lealdade.

Mas como causar pode seu favor
nos corações humanos amizade,
se tão contrário a si é o mesmo Amor?


O soneto prestou-se muito bem aos versos de amor:


Soneto do Amor Total
Vinicius de Moraes


Amo-te tanto meu amor... não cante
O humano coração com mais verdade...
Amo-te como amigo e como amante
Numa sempre diversa realidade.

Amo-te afim, de um calmo amor prestante
E te amo além, presente na saudade.
Amo-te, enfim, com grande liberdade
Dentro da eternidade e a cada instante.

Amo-te como um bicho, simplesmente
De um amor sem mistério e sem virtude
Com um desejo maciço e permanente.

E de te amar assim, muito e amiúde
É que um dia em teu corpo de repente
Hei de morrer de amar mais do que pude.


Grande Vinícios, grandes sonetos!