O Airbus corre pela pista para a decolagem. Cada lâmpada da sinalização do aeroporto ao passar pela janela parece mais tênue que a anterior. Os contornos da cidade, no horizonte, vão ficando para trás. Esmaecem-se os contrastes. Quando ela despertar já será dia.
O avião despega-se do solo. Com isso, parece deixar ali as sombras, indo ao encontro da luz. Neste momento adentramos por um portal de transição. A atmosfera é ainda sem brilho e já quase não se vêem as luzes da cidade lá embaixo. Aliás, que cidade? Já a perdemos de vista!
Ao ultrapassarmos o primeiro teto de nuvens, aeronave ainda em ascensão, as coisas começam a clarear. Neste instante me dou conta de que estamos voando no sentido Norte-Sul, 05:30 da manhã, hora local. O visual a partir da minha janela é simplesmente magnífico! São momentos como este que nos proporcionam um encontro com o Criador, se é que isto seria possível por meio de um veículo que não é criação Dele.
Não desgrudo o olhar da janela. Tenho o Nascente à minha esquerda. O sol não tarda a aparecer. Uma pequena calota da esfera solar começa a brotar flamejante por detrás da imensa planície branca formada naquela altitude pelo colchão de nuvens. A julgar pelo visual tem-se a impressão de que seria possível caminhar sobre tão estável “superfície”. Continuaremos subindo até uma altitude de cruzeiro de 28 mil pés.
A coloração do sol agora é de um dourado vibrante, meio âmbar. A pequena porção já à mostra é o bastante para fazer brilhar toda aquela imensa superfície abaixo de nós. Seu fulgor, sobre as nuvens, ofusca a visão como a brancura glacial. A pureza da paisagem é inesquecível. Já não consigo olhar diretamente para a luz, que fica cada vez mais forte, resplandecente. A gente nem se da conta de que lá fora a temperatura gira em torno dos 60° Celsius negativos.
Enquanto assistia aos últimos instantes do “milagre do dia”, do nascimento do luminar maior, algo interrompe meu encantamento:
- Café, suco ou refrigerante senhor? – O serviço de bordo.
- Hã! Água, por favor. Surpreso, nem me liguei muito no cardápio. Aliás, durante um espetáculo daqueles nada seria assim tão urgente.
Distraído por alguns minutos com o lanche, ao tornar a olhar para janela percebo que o sol já se encontrava completamente desnudo, despertado. Sua luminosidade, intensamente dourada, e calor ameno invadiam a cabine. Temperatura ambiente 19 graus. Lá fora, o céu de um azul imaculado, e abaixo a planície branca de nuvens, só comparável a um deserto de sal ou uma paisagem polar, davam ao observador a sensação de equilíbrio e serenidade. Uma visão de tirar o fôlego. Aquele com certeza seria um lindo dia!
Mais tarde, com os pés no chão, enquanto me desloco para o almoço, trânsito intenso, calor escaldante, pedestres acotovelando-se nos semáforos, percebo pela sombra quase nula de meu corpo que o sol está a pino. O relógio da esquina, alternando suas funções digitais, marca a hora e a temperatura de... 40 graus, à sombra. Bobagem! Hoje nada me aborrece! O dia nasce feliz, a gente só precisa se deixar energizar, contagiar. A temperatura é apenas um detalhe.
Boa semana a todos!
E um lindo dia para as mamães!