terça-feira, julho 24

Nem tudo é festa na Flip

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Igreja de N. s. das Dores

Após um dia cheio de atividades, quando chega a noite e o cansaço, a gente até esquece que as atrações continuam noite adentro e o que se quer mesmo é uma boa cama para descansar e folhear os livros, jornais, revistas e panfletos conseguidos. A satisfação é igual a de criança em distribuição de doces. O dia seguinte será mais um cheio de palestras, entrevistas, shows e mesas de discussão. É preciso decidir o que se quer ver ou fazer, afinal, não se pode estar em dois lugares ao mesmo tempo.

Por falar em dormir, só quem pernoita na cidade durante a Flip tem a chance de observar detalhes de bastidores. E levantar cedo, se você conseguir, pode proporcionar um aprendizado a mais.

Durante os eventos, quando as “estrelas” chegam, e você já está lá sentadinho no ar condicionado esperando ansioso pelo seu escritor preferido, ninguém imagina quantos profissionais foram mobilizados para que aquela entrevista fosse possível. Logo cedo, um verdadeiro “exército” de profissionais de limpeza entra em ação. É intrigante, mas mesmo num evento cultural, internacional, as pessoas ainda jogam lixo no chão, nas ruas. Mas até as nove da manhã tudo estará limpo e arrumado, bilheterias e postos de informações abertos. Até aí, outros “exércitos” também já estarão a postos. São seguranças, recepcionistas, técnicos de comunicações e de informática, manutenção elétrica e eletrônica, copeiros, arrumadeiras, repórteres, imprensa em geral, editoras, livrarias, comerciantes, patrocinadores, tradutores, interpretes, guias de turismo e tantos outros. E na hora certa, o seu astro vai entrar e tudo vai funcionar “perfeitamente”.

Mas, se eu dissesse que na Flip tudo é perfeito, eu não estaria sendo perfeito, quer dizer, verdadeiro. Apesar do grande número de pousadas, a capacidade de hospedagem da cidade ainda é insuficiente e os preços praticados muito elevados durante a Festa. As condições de saneamento são precárias, talvez por ter que respeitar o Patrimônio Histórico. O serviço de informação ao turista deixa muito a desejar, fica muito afastado dos acontecimentos. Uma festa literária desse nível deveria promover em paralelo uma feira de livros, o que não acontece. O comercio de livros é monopolizado; se você quiser comprar algum lançamento terá que dirigir-se a única livraria do evento, que aliás não muda.

A Flip é vista como um evento democrático. Mas é preciso ter realmente uma visão democrática. É preciso abrir o evento para outras livrarias, abrir espaço para o escritor independente, que de uma forma ou de outra está sempre presente, mesmo que como um “estrangeiro”. A cultura popular aos poucos vem se chegando também. A Literatura de Cordel já tem representantes na Flip, mas, da mesma forma, como “penetra”. Artistas de rua, poetas itinerantes, comunidades nativas, também enriquecem a Festa. É preciso que os organizadores encontrem uma forma de englobar todas estas vertentes culturais e Paraty não pode se descuidar da infraestrutura.

A verdade é que com Flip ou sem Flip Paraty é um passeio que vala a pena!

 Eu volto!