(Arquivo particular)
O clima chuvoso dos últimos dias torna a rotina mais caseira, mais
sombria, mais íntima, e acaba por nos levar a momentos de introspecção. Numa
dessas chuvas de verão (em casa, claro!) me vi lembrando da minha terra e das
coisas boas que lá deixei. Aí a saudade é inevitável. Então me deu vontade de
recitar Fernando Pessoa.
Ó sino da minha aldeia
Ó sino da
minha aldeia,
Dolente na
tarde calma,Cada tua badalada
Soa dentro de minha alma.
E é tão lento o teu soar,
Tão como triste da vida,
Que já a primeira pancada
Tem o som de repetida.
Por mais que me tanjas perto
Quando passo, sempre errante,
És para mim como um sonho.
Soas-me na alma distante.
A cada pancada tua,
Vibrante no céu aberto,
Sinto mais longe o passado,
Sinto a saudade mais perto.
Fernando Pessoa
O poema (quadras em redondilha maior ou versos heptassílabos), que tem a
gostosa sonoridade das trovas populares, destaca o passado e o espaço, o lugar
do poeta, sendo esse lugar, neste poema, a sua interioridade não a sua terra
propriamente. Lindo, não!