quarta-feira, julho 22

Gibi, cordel ou um Clássico da literatura?

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Desculpem-me caso eu esteja enganado, mas acredito que blogueiros são leitores inveterados, de outra forma não conseguiriam se manter nesta atividade que tanta leitura exige, por muito tempo. Tô certo?

No entanto por mais entusiasta que seja o leitor existem obras que muita gente abandonaria pelo caminho. Um livro com mais de duas mil páginas pode ser desanimador se a motivação e o interesse não forem o bastante. É o caso de livros da literatura clássica como Os Lusíadas, de Camões, Os Miseráveis, de Victor Hugo, ou Dom Quixote, de Cervantes. São obras magníficas sem dúvida, mas quando se tem aquele livrão na mão e não se consegue sair do primeiro capítulo, é desanimador, não é mesmo? Mas onde quero chegar, você perguntaria. Pois bem.

Você gostaria de ler Dom Quixote, de Cervantes, em uma hora de leitura ou menos, e com o prazer e a satisfação de ler uma poesia ou uma estória em quadrinhos? É possível! Não se trata de mais uma nova técnica de leitura dinâmica, não. Mas trata-se de uma iniciativa de talento e criatividade.

Em 2005, por ocasião da comemoração dos 400 anos de publicação do clássico da literatura Espanhola e mundial, Dom Quixote de La Mancha, de Miguel Savaedra Cervantes, o quadrinhista, cordelista e ilustrador cearense Klévisson Viana publicou, pela editora Livro Técnico As aventuras de Dom Quixote em versos de cordel (formato 21 x 29,7 cm, 48 páginas).
No novo formato o clássico Quixote é talentosamente recontado em versos de cordel e ricamente ilustrado pelo próprio Klévisson. A clássica cena dos moinhos aparece no centro do livro em um desenho de página dupla, magnífico. Em 2008 o poema Dom Quixote foi também gravado em CD. Desta forma, o mito, sempre atual, do cavaleiro andante ganha uma versão bem brasileira e extremamente criativa. Recomendo para leitores de todas as idades.



Aprecie aqui um pouco da graça das primeiras estrofes:


Quem foi este Dom Quixote?
Foi um louco, um sonhador?
Visionário ou lunático,
Em um mundo enganador?
Ou foi alguém que buscava
Pra vida um real valor?

Quem ler este livro tira
Algumas boas lições:
Quão imutável é o sonho
Para muitas gerações!
Dirá: “Quixote está vivo
Em nossas vãs ilusões!”.

Pois numa aldeia da Mancha
Residia, antigamente,
Um fidalgo sonhador,
Curioso, inteligente
Que lia dias e noites
De modo surpreendente.

Seu nome: Alonso Quijano.
Figura magra e esguia,
Com cinqüenta e poucos anos
Gastava o que possuía
Comprando livros e livros
De heróis da Cavalaria...



Klévisson, nasceu em 1972 em Quixeramobim-Ce, onde criou grandes personagens como: Padre Mororó, Dona Guidinha do Poço (Marica Lessa), Fausto Nilo e o famosíssimo Antônio Vicente Mendes Maciel - O Conselheiro de Canudos. Desde criança, Klévisson aprendeu com seu pai Evaldo Lima (agricultor, repentista nas horas vagas) a apreciar os clássicos da literatura de cordel, e de quem herdou o amor pela cultura popular. A partir de 1990, passou a residir em Fortaleza, onde fundou o Salão Nacional do Humor de Fortaleza juntamente com João Filgueiras e T. Matos. Hoje Klévisson Viana está à frente da Editora Tupynanquim, em Fortaleza, que distribui cordéis para todo o Brasil e está sempre envolvido com eventos culturais ligados ao cordel, pelo nordeste principalmente.


Conheci Klévisson Viana em Fortaleza em 2007 em um congresso de cultura popular no SEBRAE, onde ele apresentava oficinas de Cordel. Seu trabalho também pode ser apreciado através de iniciativa da Editora HEDRA que lançou uma coletânea de cordelistas em formato livro.

Klevisson, nessa linha de clássicos em cordel, publicou também Os Miseráveis, de Victor Hugo. Vale a pena ler ou reler os clássicos dessa forma tão criativa e descontraída. Por aí se pode observar que o Cordel não se restringe à forma tradicional do panfleto ou folheto de feira. Ele pode se prestar à releitura dos clássicos ou a muitas aplicações didáticas como tem acontecido ultimamente graças a algumas iniciativas inovadoras como a de Klevisson Viana. Parabéns Klevisson.
Que venham outros Classicos!



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