segunda-feira, junho 14

Cartas de amor

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O dia dos namorados me fez ver, de uma forma muito nostálgica até, que a era digital definitivamente põe fim a uma linda forma de expressão, que, por séculos, tanto enriqueceu os relacionamentos à distancia e a literatura. As cartas de amor.

Falo daquelas legítimas cartas de amor, em papel especial, perfumadas, com um fio de cabelo, com florzinha, com marcas de beijo e até uma lágrima incontida.

Não havia romance verdadeiro sem elas. Estas cartas eram sempre motivadas pela forçada separação dos amantes, ou em alguns casos por namoros proibidos ou secretos. Eram cartas do jovem que foi estudar fora, de amantes separados pela guerra ou pelo serviço militar simplesmente, de pessoas que se viam separadas por causa do trabalho, como mercadores ou caixeiros, ou até de separações motivadas por doenças ou exílio político.

Ela era a prova documental do romance. A imagem do soldado em missão de guerra que recebe cartas da noiva que o espera de forma incondicional em algum lugar distante povoou muitas estórias de amor na literatura e no cinema. Havia casos em que toda a fase de namoro se fazia por cartas apenas, e os apaixonados se viam por ocasião do casamento. Caso o amado não voltasse restariam as cartas.

A carta de amor era algo especial, muito pessoal e muito própria de cada um. Cada remetente, ou, para usar um termo da época, cada missivista, tinha a sua maneira particular de ilustrar, perfumar e até dobrar a sua cartinha. Sem contar a caligrafia, que era o que havia de mais particular.

Durante minha experiência de serviço militar cheguei a colecionar algumas pérolas destas. Depois elas perderam o sentido. Mas era muito bom receber cartas de meninas naquela situação de exílio voluntário, e até motivo de orgulho perante os colegas. No momento da distribuição da correspondência quem não as recebia era motivo de zombaria.

As legítimas cartas de amor hoje são vistas pelos tecnomaníacos como um fóssil da comunicação. A onda hoje é mensagem eletrônica.

É uma pena que os avanços tecnológicos tenham que sacrificar instrumentos, hoje arcaicos, porém tão ricos e belos como este.


Boa semana a todos!