domingo, setembro 30

Primavera & poesia

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Desde 22 de setembro e até 21 de dezembro, vivemos a Primavera no hemisfério sul. É a estação tipicamente associada ao reflorescimento da flora e da fauna. A Primavera está associada ao desabrochar das flores e ao cenário dos amores.

A este cenário tão poético e tão fértil, o autor dos mais belos versos de amor da língua portuguesa não poderia ter passado indiferente.

Este é um soneto camoniano dedicado à estação dos amantes.

XXVIII

Está-se a Primavera trasladando
Em vossa vista deleitosa e honesta;
Nas belas faces, e na boca e testa,
Cecéns, rosas, e cravos debuxando.

De sorte, vosso gesto matizando,
Natura quanto pode manifesta,
Que o monte, o campo, o rio, e a floresta,
Se estão de vós, Senhora, namorando.

Se agora não quereis que quem vos ama
Possa colher o fruto destas flores,
Perderão toda a graça os vossos olhos.

Porque pouco aproveita, linda Dama,
Que semeasse o Amor em vós amores,
Se vossa condição produz abrolhos.

 (Camões. Rimas, 1595)
 
Boa semana a todos!
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quarta-feira, setembro 26

Invasão alienígena

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Eu sabia que isto um dia ia acabar acontecendo. Os Aliens finalmente invadiram a terra.

Não eram muitos, mas se duplicavam com enorme facilidade e falavam uma língua muito estranha, enrolada. Já haviam chegado ao meu bairro. Circulavam em volta do meu corpo já caído, “dominado”. Pareciam todos iguais: altos, pernas compridas, quatro delas; duas cabeças, cada uma com dois olhos, duas orelhas, tudo em dobro. Muito estranhos, fluídos, deformados, e “duplicados”. E, pasmem, não eram verdes! Talvez um pouco amarelados.

Seus movimentos giratórios a minha volta pareciam uma estratégia para me intimidar, para me confundir. E, que eles não saibam, estava funcionando. Deixaram-me completamente tonto.

Todo o meu entorno era instável, sísmico. Tive a impressão de que um deles, pelo menos, já havia se alojado no meu estômago, e outro, talvez, na cabeça, como um parasita, igual acontece nos filmes de invasão alienígena.

As coisas continuavam a girar. Mesas e cadeiras também flutuavam. Agora viravam tudo de cabeça para baixo; seria o meu fim.

Um cheiro etílico, nauseante, tomava conta do ambiente. As criaturas, que pareciam ter um especial interesse em mim, continuavam a tortura, girando em torno do meu corpo, até que um deles fez contato. Sua aparência não era de todo estranha. Aproximou-se, agachou-se nas suas quatro pernas até o chão onde eu me encontrava e proferiu algo que me pareceu compreensível, embora meu corpo não pudesse ainda obedecê-lo.

- Aí parceiro, irch, acorda! Levanta! O bar vai fechar. Irch!

- Irch!
 
by Tony

 

Licença Creative Commons
O trabalho Invasão alienígena de Tony foi licenciado com uma Licença Creative Commons - Atribuição - NãoComercial - SemDerivados 3.0 Não Adaptada.
Com base no trabalho disponível em http://vozativa2.blogspot.com.br/.
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quinta-feira, setembro 20

Jorge, cem anos Amado

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Arquivo ABL

Jorge, Amado, idolatrado, filho do País do Carnaval, da Bahia, Bahia de São Jorge, dos Ilhéus, Bahia do Cacau, de Todos os Santos.  Filho de tantas mães, de santo; pai de tantos brasileiros, personagens; pai do Menino Grapiúna, de Tieta, de Teresa Batista, de Gabriela e de tantos outros, criados nas areias, com Cravo e Canela. Na Estrada do Mar sua poesia traça sua Biografia.

Em seus romances o autor escreveu sobre o Amor do Soldado, o Mundo da Paz e da Hora da Guerra; da Tenda dos Milagres e do Sumiço da Santa.

Jorge Leal Amado de Faria (10/08/1912-6/08/2001), que assumiu a cadeira 23 da Academia Brasileira de Letras em 1961, foi um dos homenageados da XXII Bienal Internacional do Livro de São Paulo, ocorrida em agosto 2012. Desde o início do ano, centenas de eventos pelo Brasil e pelo mundo celebram o centenário de nascimento de Jorge Amado.

Seu romance é a Bahia, de todos os homens, de todos os santos, do nordeste, do Brasil. De Jequié para o mundo, Amado, inesquecível, Jorge.

 
Bom final de semana!
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sábado, setembro 15

Emoções nas entrelinhas

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Líricas missivas
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A pena verte sangue que fervilha,
O que a alma sussurra aos meus ouvidos
A mão obediente e servil trilha
Caminhos muitas vezes percorridos.

Meu coração que tudo compartilha,
Conecta-se por todos os sentidos,
De suas emoções se desvencilha
E as entrega em versos convertidos.

Por linhas e entrelinhas expressivas
Posta-me ao juízo dos leitores,
Revela emoções então passivas,

Por certo até mesmo dissabores.
Confessa em tais líricas missivas
Minhas decepções, prazeres e amores.
(Tony - 2012)
 
&&&
Este soneto foi publicado na Antologia da AllPrint Editora, XXII Bienal Internacional do Livro de São Paulo - 2012.
Bom final de semana a todos!
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sexta-feira, setembro 7

Cotas: ensino de qualidade é o que precisamos

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“I have a dream that my four little children will one day live in a nation where they will not be judged by the color of their skin but by the content of their character.” (Martin Luther King, Jr.)

 Não ser julgado pela cor da pele foi uma das grandes conquistas de homens e mulheres na luta pela igualdade de direitos na sociedade moderna. Estabelecermos agora, em pleno terceiro milênio, um sistema seletivo de cotas étnicas, seja para acesso a universidades, emprego ou qualquer outro benefício, não seria jogar por terra todas essas conquistas?

 A pesquisa cientifica, não fixa pré-requisitos com base na cor da pele, dos olhos ou do cabelo do futuro pesquisador, mas sim, espera que ele esteja munido das habilidades e competências necessárias ao prosseguimento de estudos em um campo específico do conhecimento, o que o sistema regular de ensino, seja público ou privado, deveria prover.
 
 Não se engana a si mesmo aquele que lança mão desses critérios “inclusivos”? Não “se engana” o Governo, que desta forma mascara resultados do Sistema de Ensino?

O que precisamos é de um ensino de qualidade; os méritos aparecerão naturalmente. Cotas? O Governo que dê a sua "cota", de sacrifício.

 
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terça-feira, setembro 4

erotismo & poesia

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Orion nebula space galaxy on Public Domain Images


A poesia é o lugar geográfico do pensamento onde a língua, sem esforço, se solta para exercer sua plenitude e assim transcender os limites do imaginário, do dizível e do indizível.
O poeta, no exercício dessa plenitude, não fica alheio a sua condição humana. O erótico, o exótico são igualmente matéria-prima da poesia, embora na maioria das vezes não apareça, de forma explícita.
Às vezes me surpreendo, e até me repreendo, escrevendo sobre essas coisas, menos ortodoxas.
Inflorescência
  
De beleza exótica,
Flagrante,
É tua inflorescência.
Como também fragrante
Naturalmente erótica,
Sua instigante essência.
.
Secretamente incendida.
De oleaginosa flor,
Doce essência do mel,
Seiva do amor.
 
Boa semana a todos!
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