Era um dia de inverno, temperaturas baixas, névoa pela manhã. Mal raiou o dia e eu já estava na estrada. O visual era digno de uma foto. Viajava na direção oeste. Do lado oposto, os primeiros raios de sol, ainda tímidos, levantavam.
À minha direita um outro espetáculo descortinava-se. Refletida nas águas do mar, a lua cheia duplicava toda sua exuberância. O espelho formado pelas águas tranquilas reproduzia fielmente aquele medalhão luminoso. Estava composta uma autêntica obra de arte itinerante. A linha do horizonte, entrecortada pelas rugosidades do relevo que fazia pano de fundo, dava uma simetria divina à obra.
Ignorando minha pressa de todo dia, a lua parecia seguir-me de longe pelo acostamento, e, à medida que percebia a chegada do astro rei, sua beleza ia esmaecendo, saindo furtiva, escamotendo-se por entre véus de neblina. A cada raio de sol que irrompia ofuscante de um lado, ela escondia um pouco seu brilho do outro. O luminar da noite encerrava seu turno.
Acompanhei-a enquanto pude. Parecia continuar me seguindo. Enquadrada pela janela do carro, acompanhou-me por quilômetros à beira mar, adornada, ora por morros e ilhas, ora pelo contorno de prédios e embarcações.
Como se encontrava ainda baixa, à medida que o carro avançava pela estrada ela sumia e reaparecia, por conta da geografia ao fundo. De relance, ao longe, nos limites da visão periférica, vejo passar um automóvel escuro, enigmático. Movia-se em direção à lua. No momento em que o veículo parecia cruzar à sua frente, acredito tê-la visto entrar nele. É claro que era uma ilusão de ótica. A lua não poderia entrar num automóvel. Nem em sonho. Olho pelo retrovisor e vejo o sol, já ofuscante, no alto. Após a próxima curva eu já não via o carro, nem a lua. Fiquei pasmo!
O trânsito para. Em desespero, tento acelerar para seguir o insano que seqüestrara a lua. Em vão. O trânsito, totalmente estático, denunciava que todos tinham visto aquilo. Estavam abismados! Desci e corri entre as intermináveis filas de veículos. Será que a lua reaparecerá amanhã?
Quando me dou conta da loucura, volto para o carro. Todos me olham boquiabertos. Se não viram o que vi devem estar pensando que sou louco! Esbaforido, sento no carro, fecho os olhos e fico imaginando como seriam as próximas noites sem luar... O que estaria acontecendo? Indago a mim mesmo.
De repente uma "buzina" irritante me desperta! Ah não! O despertador! De um salto levanto para a rotina de mais um dia. No banheiro, enquanto faço a barba, um reflexo no espelho me chama a atenção. Com sua luz branda e grácil, a lua reluzente adentrava majestosa pelo basculante. Era o primeiro dia da lua cheia. De imediato lembrei-me do pesadelo e não contive sorriso de alívio. Por longos minutos mirei aquela imagem no espelho; quase perco a hora.
Ao entardecer, quando de volta para casa, para meu deleite, ela já aparecia discretamente no imenso céu azul, porém cada vez mais insinuante, cada vez mais cheia, de brilho e glamour.
ooo
A próxima lua cheia será dia 04/10.
Tenham uma boa semana.
À minha direita um outro espetáculo descortinava-se. Refletida nas águas do mar, a lua cheia duplicava toda sua exuberância. O espelho formado pelas águas tranquilas reproduzia fielmente aquele medalhão luminoso. Estava composta uma autêntica obra de arte itinerante. A linha do horizonte, entrecortada pelas rugosidades do relevo que fazia pano de fundo, dava uma simetria divina à obra.
Ignorando minha pressa de todo dia, a lua parecia seguir-me de longe pelo acostamento, e, à medida que percebia a chegada do astro rei, sua beleza ia esmaecendo, saindo furtiva, escamotendo-se por entre véus de neblina. A cada raio de sol que irrompia ofuscante de um lado, ela escondia um pouco seu brilho do outro. O luminar da noite encerrava seu turno.
Acompanhei-a enquanto pude. Parecia continuar me seguindo. Enquadrada pela janela do carro, acompanhou-me por quilômetros à beira mar, adornada, ora por morros e ilhas, ora pelo contorno de prédios e embarcações.
Como se encontrava ainda baixa, à medida que o carro avançava pela estrada ela sumia e reaparecia, por conta da geografia ao fundo. De relance, ao longe, nos limites da visão periférica, vejo passar um automóvel escuro, enigmático. Movia-se em direção à lua. No momento em que o veículo parecia cruzar à sua frente, acredito tê-la visto entrar nele. É claro que era uma ilusão de ótica. A lua não poderia entrar num automóvel. Nem em sonho. Olho pelo retrovisor e vejo o sol, já ofuscante, no alto. Após a próxima curva eu já não via o carro, nem a lua. Fiquei pasmo!
O trânsito para. Em desespero, tento acelerar para seguir o insano que seqüestrara a lua. Em vão. O trânsito, totalmente estático, denunciava que todos tinham visto aquilo. Estavam abismados! Desci e corri entre as intermináveis filas de veículos. Será que a lua reaparecerá amanhã?
Quando me dou conta da loucura, volto para o carro. Todos me olham boquiabertos. Se não viram o que vi devem estar pensando que sou louco! Esbaforido, sento no carro, fecho os olhos e fico imaginando como seriam as próximas noites sem luar... O que estaria acontecendo? Indago a mim mesmo.
De repente uma "buzina" irritante me desperta! Ah não! O despertador! De um salto levanto para a rotina de mais um dia. No banheiro, enquanto faço a barba, um reflexo no espelho me chama a atenção. Com sua luz branda e grácil, a lua reluzente adentrava majestosa pelo basculante. Era o primeiro dia da lua cheia. De imediato lembrei-me do pesadelo e não contive sorriso de alívio. Por longos minutos mirei aquela imagem no espelho; quase perco a hora.
Ao entardecer, quando de volta para casa, para meu deleite, ela já aparecia discretamente no imenso céu azul, porém cada vez mais insinuante, cada vez mais cheia, de brilho e glamour.
ooo
A próxima lua cheia será dia 04/10.
Tenham uma boa semana.