domingo, novembro 8

Nas asas dos sonhadores

Comments
 

Monumento a Bartolomeu de Gusmão, Santos - SP

Acredito que toda criança sonha muito; acordada, quero dizer. Fazer planos mirabolantes, sonhar ter super poderes. Como ser invisível ou voar, por exemplo. Já teve estes sonhos “malucos”?

Quando criança pequena, lá em deus-me-livre, eu sonhava poder voar. Mas não ficava só no sonhar não! Eu vivia rabiscando projetos de um avião. Quando adolescente, planejava construí-lo e sair por esse mundão voando, pousando aqui e ali, conhecendo novos lugares, novas pessoas. Muitas vezes deitava no campo à noite para observar as estrelas. Aí eu sonhava mais alto; ficava imaginando viajar entre elas.

Devorava livros como os de Julio Verne, as Viagens de Gulliver, qualquer ficção espacial e principalmente tudo que falasse sobre Santos Dumont, “Le petit Santos”. Ele era meu ídolo. Enfim, o sonho de voar mobilizava minhas horas de laser. De vez em quando construía modelos em papel ou madeira e testava-os. Fazia pipas super diferentes, algumas gigantescas. Ainda bem que nunca me joguei do telhado agarrado a nenhuma delas!

Fazer uma geringonça de papel, tecido ou madeira não seria difícil, mas meus projetos começaram a sair do mundo dos sonhos e foram aos poucos caindo na realidade. Isto quando me dei conta de que um avião precisaria de um motor. Aquilo que tracionaria meu avião para o alto e avante passa a ser o que levaria meus sonhos para trás. Faria com que eles aterrissassem sem mesmo ter decolado. O motor seria o divisor de águas entre o sonho e a realidade.

No entanto motor que movia minha criatividade continuava lá, a todo vapor. Continua até hoje, tirando-me da inércia de vez em quando. Não exatamente para voar pelos céus, mas para viajar por mundos diversos, como o da literatura por exemplo.

Porém, se um avião precisaria de um motor, meu sonho acabava ali. Pobre criança pobre! Aluno de escola pública, família grande. Bom, o resto vocês já imaginam.

Com o tempo este sonhador que lhes fala um dia veio a ser militar da Aeronáutica. Voou um bocado por esse mundo. O avião não era nenhuma geringonça feita em casa, mas estava realizado o sonho de voar. Embora eu deva isso a outras crianças sonhadoras, que diferentemente de mim puderam levar seus sonhos às últimas instâncias.

Você deve estar se perguntando a onde quero chegar com este texto, que não promete nenhum clímax. Pois é. Na verdade eu gostaria de tê-lo escrito no dia 23 de outubro, que foi o dia do aviador. Singela homenagem a Santos Dumont.

É minha pequena homenagem aqueles que, muito antes que eu ao menos tivesse nascido, já haviam sonhado por nós. E nesse rol de sonhadores, deixando de lado os mitos como o de Ícaro e Dédalo, muitos homens, inclusive muitos brasileiros, dedicaram suas vidas a pesquisas e ensaios arriscados para fazer o homem tirar o pé do chão.

Santos Dumont não foi o único. Já no século XVII, o padre voador, Bartolomeu de Gusmão (1685 – 1724) que nasceu em Santos – SP, com apenas 20 anos fazia suas experiências com a aerostação, balões de ar quente (1708), diante da Corte Portuguesa. Júlio César (1843 – 1887), paraense, fez experiências com o Aeróstato dirigível sem motor; teve problemas financeiros para manter as pesquisas e seu projeto acabou sendo plagiado na França. É considerado por muitos o verdadeiro inventor do dirigível. Augusto Severo (1864 – 1902), potiguar, contemporâneo de Santos Dumont, mártir da Tecnologia Aeronáutica, faleceu em 1902, em Paris durante testes com seu dirigível Pax.

Finalmente, em 23 de outubro de 1906, direto do campo de Bagatelli, em Paris, o brasileirinho, Santos, que também sonhava voar como um pássaro, fez o homem finalmente tirar o pé do chão, definitivamente.

Agora eu posso me deter em outros sonhos; de preferência um sonho que eu possa levar até o fim!


“São os sonhos que movem a humanidade”