quarta-feira, agosto 24

Do caos à obra ao caos

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Conta a teologia que, do caos, criou Deus o céu e a terra. Mas Ele parece não ter gostando nada do vazio que ficou sua criação. Moveu céus e terras, separou águas e continentes. De Pangéia a Gonduana, redesenhou a terra. Ainda não estava bom!

Encheu Ele de vida todo o planeta água, e, por fim, colocou lá o bicho homem. Um pobre mortal, no meio da obra prima, (isto não vai dar certo!). Sobre as poucas porções de terra firme, um paraíso até então, colocou Deus as míseras criaturas humanas, que, maravilhados com as delícias do paraíso, tem agido meramente como hóspedes mal educados, explorando e deixando a sujeira para trás.

Agindo assim, já levaram o Criador a introduzir muitas mudanças em Seus planos para o velho mundo, ex-paraíso. Já foi preciso inundar tudo uma vez e até botar fogo em algumas cidades; já confundiu a língua dos povos, já os cobriu de pragas e bênçãos, mas a verdade é que isto aqui nunca mais teve cara de paraíso.

Vendo tudo por outro ângulo, se o próprio autor, engenheiro e construtor da obra, não ficou satisfeito com o resultado, por que o homem-hóspede deveria estar? Sua vida é uma (mera) experiência, árdua. Sobretudo, um desafio mortal que lhe prega peças a cada dia. Um verdadeiro reality show. É preciso adaptar-se a cada volta que a Obra dá.

Diariamente, na ilusão de dias melhores, todos fazemos alguma mudança no mundinho que nos cerca, ajustando aqui e ali, adaptando o que é possível. Plantamos uma árvore, onde antes havia centenas delas; trocamos a companheira que Ele nos deu – talvez a costela fosse “defeituosa”; mudamos de emprego pra ver se o salário também muda. Mudamos de endereço ou, se isso não for possível, simplesmente mudamos os móveis de lugar. Mudamos de comportamento ou, o que é mais prático, mudamos de relacionamentos; é mais fácil procurar pessoas que se ajustem à nossa maneira de viver do que mudar essa cabeça dura. Com isso a vida vai passando e sentimos a falsa sensação do dever cumprido, a aparente sensação de ter feito a nossa parte. É a ilusão do novo, a esperança de tempos melhores. Mas nada, nunca está bom. Aí tentamos de novo para ver se melhora.

Buscamos soluções na lua, em Marte, no espaço infinito, enquanto há ainda tanta coisa por descobrir e por fazer ao nosso lado. Nesta eterna busca da satisfação pessoal criamos maquinas para tudo: máquinas de fazer fumaça; fumaça que mata homens, plantas e animais. Aí criamos outras maquinas para eliminar a fumaça. Com a criação de gado e as grandes plantações de soja, milho e cana-de-açúcar acabamos com as florestas; as grandes cidades transformam os rios em canais de esgotos, que juntamente com os lixões, produzem gases que contaminam a terra. Estragamos a água, outrora cristalina, transformamos florestas em desertos. Depois de toda essa “fumaça”, agora queremos vender a fumaça que não fizemos ou comprar o direito de fazer a fumaça que queremos. É a desconstrução da Obra. Dá para entender?

O homem ainda não encontrou um jeito de viver sem deixar suas pegadas nocivas. Caminha de volta ao Caos num processo aparentemente sem volta. Só mesmo uma nova intervenção do Criador!
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Licença Creative Commons
A obra Do caos à obra ao caos de Tony foi licenciada com uma Licença Creative Commons - Atribuição - Uso Não Comercial - Obras Derivadas Proibidas 3.0 Não Adaptada.
Com base na obra disponível em vozativa2.blogspot.com.