terça-feira, dezembro 6

Um homem, um vira-latas

Comments
 



O verdadeiro espírito do Natal, nos faz refletir sobre questões muito comuns do dia a dia. Recentemente, numa manhã de domingo, quando retornava com o pão e o jornal, uma cena me chamou a atenção.

Deitados na calçada, a cerca de 30 metros de uma igreja protestante, estavam um homem e seu vira-latas. Na verdade, deitado estava o cachorro; o homem estava caído! Até ai nada de anormal para o cenário urbano. O individuo, ou que restou dele, estava em trapos, caído, todo ralado. Mas seu fiel amigo não o abandonara. Cheguei mais perto para ver qual a real situação. Primeiro, fiz amizade com o cão, que, zeloso, acompanhava cada movimento meu. Passei então a verificar o estado do cara, que embora tentasse responder as minhas perguntas, não conseguia pronunciar uma palavra sequer. Tinha todo jeito de estar alcoolizado. Como o sol já estava alto e lhe queimava o rosto, puxei-o para a sombra. Em curto prazo, não havia muito o que fazer. O álcool precisará de um tempo para sair do sangue. Aí, quando ele acordar, o cão o levará para casa.

Já retomava meu caminho, quando percebi que o culto ao lado acabara, e que membros da igreja, começavam a sair, cheios do Espírito de Deus.
- A paz do Senhor.
- Vai com Deus irmão. E etc. e tal.

Foi quando notei que ao avistarem o homem caído, ao lado do vira-latas, a maioria das pessoas ao sair da igreja mudava de calçada. Aqueles que passavam perto, fingiam não ver nada de errado. Se ao invés de um homem e um cão fossem dois vira-latas creio que reagiriam da mesma forma. Olhariam com a mesma indiferença.

Segui para casa desfiando algumas questões:
O que buscamos na igreja? Por que o discurso religioso não se aplica fora do templo? Aquele que tem Deus no coração pode olhar um homem caído na rua e um cão sarnento com a mesma indiferença?

Esse olhar sobre o semelhante está se tornando “comum”. Isso é preocupante!