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Quando criança pequena, uma das brincadeiras que eu adorava era tomar banho na chuva. Correr, botar barquinhos de papel nos canais, observar o desenho que os raios faziam no céu e esperar o ronco dos trovões. Mas, o que mais me encantava mesmo era o tal do arco-íris...
Nos melhores momentos de minha infância perambulei pela estrada multicolorida. Aquela ponte arqueada, que me transpunha dos mares daqui para os mares de lá, tinha um efeito transcendental. Durante as caminhadas, temendo por um descuido cair lá de cima, evitava a fragilidade do amarelo e as nuances limítrofes de suas faixas; transitava sempre entre o azul e o lilás; quem sabe cruzava com alguma estrela! Vez por outra, vagava entre os verdes procurando frutinhas celestes. Certa vez, depois de quase queimar os pés nas cores quentes, passei a caminhar por cores neutras e deter-me por entre as sombras. Aquela estrada parecia um ambiente de tranqüilidade e fantasia, embora fosse um caminho sempre chuvoso. Aliás, eu não conseguia entender por que nem sempre aquela ponte estava lá!
Da última vez em que fiz a arte de andar pelo arco-iris, quase chegando ao fim da caminhada, olho para trás e percebo que deixei marcas nas faixas por onde andei. Isso nunca havia me acontecido. Faço então o resto do caminho rezando para que a chuva limpe a sujeira que meus trôpegos e despreocupados passos deixaram para trás. Vendo que outras crianças me seguiam de longe, gritei para que apagassem minhas pegadas. Naquele instante, observei que o arco-iris também estava sendo apagado. Assim, sem poder voltar, de alguma forma percebi que deixava de ser criança.
(...)
Enquanto criança a gente vê coisas ou faz coisas que parecem tiradas de contos de fadas. Mais tarde, a gente nem sabe se viveu ou se sonhou...
Pensamento de criança: “Seria bom ser criança se eu pudesse ser sempre uma criança!”
Beijo “crianças”!