domingo, agosto 5

Dias taciturnos.

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Gravura: Mauricio Nascimento;
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Os dias em que não falo dizem algo sobre mim. Falam da minha ausência, dos meus vazios. Nos dias em que não escrevo faço autorretratos.
Existe um posicionamento com relação à poesia, uma espécie de pressuposto, que consiste na ideia de que as mensagens mais sublimes de um poema, podem estar, não no que foi dito, mas nas lacunas, nos seus vazios, vazios estes que o leitor buscará, às vezes inutilmente, complementar.
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O poeta fala de certezas calcadas nas suas dúvidas e de uma liberdade respaldada na sua clausura. Com base nesses pressupostos, aceito o desafio das palavras, mesmo na falta delas, os vazios; busco entender-me com elas, divido com você a tarefa de recuperar-lhes a semântica e preencher as lacunas, lacunas estas que também são as minhas.
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Folha em branco
Maldito
Inescrito espaço em branco,
Mundo inacabado,
Sequer começado,
Palimpsesto imaculado
Pensamento inaudito.
Espaço mudo,
Lugar cativo
Do dito não dito;
Berço do texto proscrito,
Do pensamento natimorto
Ao imaginário restrito.
Desejo uma boa semana a todos!

Comentários (4)

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Alguns escrevem para não esquecer a memória, outros para preencher os vazios. Não importa a forma, o escritor está sempre exercitando a doação. Boa semana!! Beijus,
1 resposta · ativo 660 semanas atrás
Beijo Luma,
tudo de bom!
Adorei o post , Tony, aliás me identifiquei muito com ele.

Realmente, muitas vezes o que foi dito/escrito é apenas a ponta do iceberg; a mensagem principal pode estar protegida nas entrelinhas... É preciso conexão e sensibilidade para poder identificar este tesouro!

Um abraço!
1 resposta · ativo 661 semanas atrás
Abraço Carla,

Obrigado pela visita e uma ótima semana pra vc.

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