quarta-feira, abril 15

Crônica de calçada

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Bom dia!


Saindo de um feriadão, ócio, muito chocolate e dia do beijo na segunda-feira, hoje tá todo mundo arrasado! É, por que o ócio já é convidativo ao amor, o chocolate desperta a libido e o beijo incendeia tudo. É muito desgaste. Então a lombeira da segunda-feira passa para a terça-feira, quarta. Não há quem aguente!
Vamos ver um texto leve para descontrair?


O peixe cirurgião

Ivan Rodrigues

Martha se preparava para fazer uma pequena cirurgia; a retirada de alguns sinais. Aqueles sinaizinhos que parecem uma bolinha, um dedinho.

Pretendia retirar os sinais incômodos que atrapalhavam na hora de colocar um biquíni bem transado para ir à praia. Dependendo da roupa que colocava as pelotinhas incomodavam. Aliás, os homens nem notavam, mas sabe como é mulher, não pode ver uma pintinha em qualquer lugar que vai logo querendo extirpar o negócio.

Estava tudo acertado. Só faltava confirmar a data com o médico. As bolinhas seriam retiradas com cobertura total do plano de saúde. Melhor que isso...

Martha já havia feito os exames necessários. Agora era só esperar. Mas a vida não para. Enquanto aguardava resolveu aceitar um convite de amigos para ir a um banho de cachoeira, mesmo com as benditas bolinhas. Maridão, crianças, foram todos conhecer a cachoeira, afinal ainda era verão e queriam aproveitar.

A cachoeira tinha umas quedas bonitas e formava um pequeno lago onde as pessoas se concentravam para nadar, mergulhar, pular, etc. Martha não gostava muito de tumulto e preferia entrar na água quando não havia muita gente se banhando. Entrou, mergulhou, tinha até esquecido das bolinhas das quais em “breve” haveria de livrar-se. O banho estava uma delícia.

Quando Martha estava parada, conversando com uma amiga, provavelmente sobre beleza, estética ou algo parecido, sentiu uma beliscada na coxa. A princípio achou que fosse alguma brincadeira, de criança, ou de marmanjão mesmo. Mas não havia ninguém mergulhando em volta delas.

Enquanto se agachava para coçar o local e ver o que teria acontecido, sentiu beliscar outra vez, agora do outro lado, bem na altura das bolinhas. Dentro daquela água turva não dava para se ver muita coisa, e não se deu conta do que havia acontecido. Sentia que ardia um pouco no local. Passou a mão de um lado e de outro e não sentiu os sinais. Parecia não ter sinal nenhum.

- Eram duas bolinhas do tamanho de uma ervilha. Comentou com a amiga. E foram saindo da água.

Ao se movimentarem viram alguns peixinhos rondando a área e ao chegarem à parte mais rasa a amiga observou que Martha tinha um pequeno sangramento onde antes ficavam os sinais. Só então se deram conta do que havia ocorrido. Os peixinhos tinham comido as bolinhas. As duas não tiveram outra reação senão cair na gargalhada. Também, não avisaram pros peixinhos famintos que aquilo não era isca! Foi a cirurgia mais descontraída que se possa imaginar, e pra dizer a verdade não doeu nada!

Estaria aberta a temporada de cirurgia beneficente? O peixinho não cobrou consulta, anestesia, cirurgia, nem pediu comprovante do Plano. Pior que nem sei o nome dele. Seria Dr. Lambari ou Dr Piaba?

Bastou comentar no Salão de cabelo que o boato do peixinho cirurgião se espalhou pela vizinhança. Na semana seguinte deu excesso de banhistas na cachoeira. Mas o Dr. Peixinho parecia ter encerrado a temporada. Não deu as caras. Acho que ficou com medo de uma daquelas operações da Polícia Federal; Operação Lambari, por exemplo.


O único problema para Martha foi ter que explicar para o médico e para o Plano que não precisaria mais da cirurgia e que queria cancelar o procedimento.

Se o Conselho de Medicina pega esse peixinho ele ta frito!