segunda-feira, abril 6

Infidelidade: uma questão tecnológica?

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A hora do corno


Num artigo de seis páginas, intitulado “A hora do corno”, a revista Superinteressante divulgou, na edição 263 de março 2009, uma matéria que trata de um velho tema com uma abordagem nova. A matéria sobre infidelidade conjugal, que começa com a questionável frase: “Estamos traindo mais. Mas a culpa não é nossa” é no mínimo inusitada. Confortável para todos os infiéis mortais, não?
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Com base em pesquisas e dados estatísticos a revista tenta culpar modernidades como o celular, a internet, e até o Viagra, pelos altos índices de infidelidade nos últimos anos. Segundo a revista, uma pesquisa da USP em 2008, revelou que 68% dos homens e 42% das mulheres declararam já ter traído o parceiro. Ainda, como evidencia da nova era da infidelidade, a matéria cita o sucesso do site canadense Ashley Madison, que conta com mais de 3,5 milhões de usuários e é destinado a pessoas casadas interessadas em arrumar um amante. Só falta atribuírem à tecnologia também o crescente número de casos de AIDS.




Longe de querer fazer apologia ao adultério, os relacionamentos extraconjugais sempre existiram e nunca se ouviu alguém culpar o cavalo, o ônibus ou o trem que levava o amante até a casa do corno. Antigamente não existiam os meios de comunicação hoje disponíveis e a realidade social era outra, mas a infidelidade e a promiscuidade sempre estiveram presentes na sociedade. Antes, tudo acontecia em segredo; agora é até chique ter amante, muitas vezes disfarçado de "personal-qualquer-coisa" ou um affair.

Já no Século V a. C. a doutrina hedonista, que prega o prazer como bem supremo, encontrava defensores na Grécia. Segundo ela o homem é senhor do mundo e tem o direito de aproveitar todas as delicias e prazeres da vida. Desde a Idade Média a certeza da efemeridade do tempo e a incerteza da vida levam à necessidade da busca imediata dos prazeres. É a idéia do Carpe diem de Horácio, - gozar o dia - que é a base da idéia hedonista. Portanto, se há um defeito, quer seja genético, conceitual, ou filosófico está no próprio ser humano. Definitivamente a culpa não é do telefone.

As ferramentas sempre estiveram à disposição. Hoje é um celular ou uma conexão de internet. Antes poderia ser um cavalo para se cavalgar léguas até o domicílio da outra, ou um pombo correio para levar um bilhete apaixonado de um castelo a outro, às vezes até acertando o rapto da amada. O pombo correio evoluiu. A culpa também não é da internet absolutamente.



A infidelidade encontra lugar nos mais diversos momentos históricos. A prostituição é talvez seja a vilã mais antiga. Profissões como tropeiros, caixeiros viajantes, pilotos, comandantes de embarcações, sempre foram uma tentação para as aventuras fora do casamento. E nos casos de filhos do “coroné” com as “negrinhas”, filhos com a empregada, ou com a cunhada, qual seria a ferramenta culpada?

Quando inventaram o telefone imagino como as esposas pularam. Mais um vilão para destruir a família! Mas a infidelidade nunca dependeu nem de energia elétrica! E o que dizer da camisinha, da pílula e da emancipação da mulher? E agora? Coitada da Internet! Ela também não é culpada, o Viagra muito menos.

Acredito que há um certo folclore quanto à idéia de ser corno, há até quem ache isto engraçado, mas acho que esquecemos os conceitos de amor, de família, dignidade e respeito há muito tempo. Se há algum culpado, certamente não é o celular, a internet, ou sei lá o que. Não adianta sair por aí quebrando o celular ou o PC do parceiro. As ferramentas culpadas pelo adultério sempre estiveram por aí, são inerentes ao ser humano. Agora se ele algum dia vai conseguir domar seus hormônios é outra estória.